quinta-feira, 14 de abril de 2011

PETRAGLIA - CARTA PARA CONSELHEIROS DO FURACÃO

Curitiba, 14 de abril de 2011.
Srs. Conselheiros do Clube Atlético Paranaense,
O futebol é mais do que um simples esporte. Metáfora da vida, simulacro das
emoções humanas, nascedouro de mitos, forja de heróis, o maior espetáculo da Terra.
Podem atribuir a esse magnífico desporto as mais variadas definições, das mais líricas
às mais arrebatadoras. Mas futebol tem também o seu lado pragmático, menos
romântico e que se constitui das regras, em sua maioria não escritas. Estas regem a
ordem de forças que produzem esse espetáculo e despertam tantas emoções em todo
o mundo. Atualmente, mais do que nunca, o futebol é um jogo de poder.
Com a modernização do esporte e sua transformação em negócio de bilhões de
dólares e de fãs, essa dinâmica de controle de forças ficou ainda mais exacerbada. É
impossível hoje pensar em fazer futebol sem ter o conhecimento do cenário, o
entendimento da política e das estratégias que fazem uma agremiação chegar ao topo
e se manter no topo. Não se pode ignorar os meios para se fazer a marca do clube
crescer, difundir‐se, ser respeitada e, através desse patrimônio chamado marca,
conseguir a captação dos recursos que permitirão estar entre os maiores. Futebol de
primeira linha não é mais coisa para amadores, aventureiros, curiosos e dirigentes de
horas vagas. Futebol profissional não é bico, não é hobby, não é passatempo. Futebol é
coisa séria. Coisa de gente grande.
Temos visto nosso clube ser administrado de maneira amadora, leniente, ocasional.
Temos assistido a dilapidação do patrimônio que nos fez crescer. Perdemos o respeito
que tínhamos conquistado no cenário nacional e internacional. Somos hoje
coadjuvantes no jogo do poder. Temos visto o clube sendo administrado em reuniões
informais, em que se decidem em clima de confraria, quais serão os rumos de uma
instituição tão importante como o Clube Atlético Paranaense. Nosso clube hoje ignora
a dinâmica do mercado, não tem plano de ação, não tem projeto, não tem ambição.
Pior ainda, seus dirigentes tomam decisões equivocadas, aliam‐se aos grupos errados,
não têm noção do que fazer em momentos de crise, esquivam‐se das cobranças e
fogem para a acolhida de seus parceiros tendenciosos de alguns veículos de
comunicação, onde extravasam suas mentiras, calúnias e ataques. O Clube Atlético
Paranaense está à deriva. E nós pensávamos que isso não aconteceria novamente.
Infelizmente, é o que está acontecendo.
A falta de traquejo, de discernimento e de percepção dos atuais dirigentes do clube
me fizeram trazer até os senhores a minha preocupação de que, se algo não for feito,
tenhamos que amargar a volta aos períodos de grande penúria que nos fizeram um
dia ter de intervir. Chegou a hora de novamente discutirmos os rumos do clube, antes
que seja tarde demais. Quero colocar a minha experiência de líder da revolução
iniciada em 1995 e de mais de 14 anos enfrentando o jogo do poder do futebol à
disposição do clube neste momento. Quero deixar claro que não serei candidato nas
eleições de dezembro, mas pela minha história dentro do clube e por ter apoiado a
eleição da atual diretoria, tenho o dever e a obrigação de não me calar e o crédito para
criticar e cobrar dos atuais responsáveis. Não posso ver o desmonte das estruturas
básicas do clube, a perda de valor e de imagem que a negociação atrapalhada das
cotas de TV para o triênio 2012 – 2014 poderá trazer e também a perda dos jogos da
Copa 2014 com a não conclusão da Arena FIFA, sem fazer nada!
Foram três anos em que nada se fez, nada se plantou, nada se criou, nada se repôs.
Apenas se extraiu do clube. Estamos às portas do Mundial de 2014 e até agora
nenhuma, absolutamente nenhuma ação foi tomada no sentido de se preparar o
estádio e definir onde iremos jogar durante a construção da nova Arena. Estão
esperando o mandato terminar, omitindo‐se das grandes questões atleticanas e ainda
por cima desmontando e destruindo tudo o que havia sido criado. As parcerias que
deram ao clube alguns dos seus melhores atletas e negócios foram encerradas. A base
está sendo destruída, esvaziada, sem olheiros correndo o país e sem a descoberta de
novos talentos, sem nenhum jogador a ser revelado no profissional, com raros
jogadores nas Seleções Brasileiras de base, em que sempre marcamos ampla presença,
sem jogadores jovens em condição de aparecer nacionalmente e os que haviam, foram
perdidos, roubados ou “queimados”. São várias questões:
‐ Cotas de TV negociadas de forma burra;
‐ Nenhuma ação, nem incipiente, a respeito do compromisso de concluir a Arena;
‐ Contratação em grande número de jogadores rodados com altíssimos salários, como
o Claiton, por exemplo, contratado lesionado que permaneceu a maior parte do
tempo no chamado “CECAP”;
‐ Jogadores medianos com salários de 800 a 1 milhão de reais anuais;
‐ Mais de 40 jogadores sem condições de atuar no CAP foram trazidos. Quanto se
gastará na rescisão do contrato de todos eles? De onde será tirado este dinheiro?
‐ Jogadores do mercado do futebol não querendo mais vir atuar no Furacão, com
perda de valor dos nossos atletas por negociações mal feitas e desonestas.
‐ Categoria de base sendo conduzida por pessoas sem preparo;
‐ Sistema de sócios sem funcionamento ou funcionamento precário;
‐ Clube no segundo grupo da Timemania, recebendo um terço a menos;
‐ CT abandonado e Arena sem limpeza e manutenção adequada.
‐ Apoio da diretoria a facções organizadas;
‐ Apoio da diretoria à imprensa que sempre trabalhou contra o CAP, com todas as
portas abertas para tendenciosos e fabricantes de “notícias”;
‐ Valores de patrocínios aviltados, vendidos a “preço de banana”;
‐ Não temos Diretoria de Marketing, nem Diretoria Internacional e todos os
colaboradores formados no setor administrativo do clube foram demitidos;
‐ A área de internet está abandonada e o site oficial tem baixa qualidade e
atratividade.
Será que sendo administrado dessa forma, o Atlético Paranaense poderá enfrentar os
novos desafios que vêm pela frente, com a mudança total do cenário do “negócio
futebol” nos próximos anos? Poderá enfrentar os ditos clubes grandes e de maior
torcida, que terão as suas cotas televisivas ainda maiores e estarão recuperados
financeiramente e estruturalmente? Por um cargo de 5º escalão no Clube dos 13, o
presidente do Conselho Administrativo colocou em risco os ganhos financeiros e a
exposição de marca do clube comprando uma briga inglória e contrariando
infantilmente os interesses do sistema capitaneado pela Rede Globo e CBF. Um
desconhecimento absoluto do jogo do poder e do sistema que comanda o esporte. Eu
aprendi a jogar esse jogo nos 14 anos que fiquei à frente do clube e senti na carne os
efeitos de contrariá‐lo. Mesmo assim, conseguimos avanços à época. O que
conseguimos hoje? Nada. A não ser o descrédito e a vergonha de ter de voltar atrás.
Foram três anos de vácuo, de falácia, de nada. Nem tijolos e nem chuteiras. Promessas
de campanhas não cumpridas, contratos importantes não realizados, sócios perdidos,
compromissos abandonados. Três anos em que tentaram incutir na cabeça do torcedor
que basta trazer jogadores e que os objetivos serão atingidos. Três anos de nenhuma
realização em nível macro, apenas pormenores populistas que não tiveram efeito
prático. Hoje em dia, perdemos facilmente nossos jogadores mais valiosos para o São
Paulo e Palmeiras, com reposição pífia de jogadores velhos e sem qualidade. E temos
um amador no departamento de futebol, que ainda não definiu se é funcionário
público ou diretor de futebol.
É por isso tudo, senhores conselheiros, que me dirijo até os senhores. Estamos nos
enfraquecendo, perdendo o viço que já tivemos. Temo pelo restante do ano, terminálo
com o patrimônio destruído, sem estádio para a Copa e na segunda divisão. Se há a
mesma preocupação em cada um dos senhores, peço que formalizemos um manifesto
e uma lista de adesão para pedirmos a convocação de uma Reunião Extraordinária do
Conselho Deliberativo, com a pauta supra referida para que seja debatida e, se for
entendimento da maioria, seja criada uma Comissão de Conselheiros para tratarmos
dos assuntos relevantes e emblemáticos que estamos vivendo neste momento.
Peço também que se associem à AssoCap, para, além desse Conselho, trabalharem em
prol do nosso Furacão junto aos demais sócios, fortalecendo ainda mais o nosso clube
para termos as ideias certas para enfrentar o jogo do poder. O Atlético Paranaense
precisa da postura decidida e pró‐ativa dos seus quadros! Por isso que existe a
AssoCap, para dar forma, justificativa e endereço aos anseios da nossa nação de mais
de um milhão de torcedores. Este é o valor da AssoCap, o valor de nossa gente e de
nossas ideias.
Trabalhando juntos, recolocaremos o Atlético Paranaense entre os maiores do Brasil,
deixando para trás outros clubes que hoje estão entre os 12 grandes.
Vamos recolocar o Clube Atlético Paranaense no lugar que ele merece: no caminho da
grandeza!
Muito Obrigado.
Mario Celso Petraglia
Ex‐Presidente e Conselheiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário sobre a postagem.